Esta é uma das crónicas que Miguel Esteves Cardoso escreveu para o Expresso, e que veio posteriormente a ser editada em livro conjuntamente com muitas outras. Por aquilo que aborda, a amizade e a falsa amizade, achei-a merecedora de ser transcrita, sem cortes ou alterações, aqui fica. “Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor, nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou o melhor amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar, todas estas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas. Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, m