Recomendo uma leitura atenta do texto abaixo:

Por Gonçalo Valente e Henrique:
"A minha crónica no programa caixa alta da rádio castrense.
Já muito se escreveu, já muito se ouviu relativamente aos resultados das Presidenciais do passado Domingo, por isso mesmo, vou apenas abordar aquele que é o tema dominante e alvo de maior escrutínio.
Sem surpresas Marcelo Rebelo de Sousa foi reconduzido para um segundo e último mandato, na Presidência da República, reforçando a sua votação. A percentagem de votos é magnânima e clara e explica-se por aquilo que vale o próprio, somando o apoio em massa do PS e o apoio do PSD ou de uma parte do PSD, para ser mais sério.
Contudo curiosamente os holofotes da noite, incidiram particularmente em André Ventura. Apesar de ter colocado a fasquia alta não atingindo os principais objetivos a que se propôs (2º lugar e obter mais votos do que toda a esquerda junta), há verdades que não podem transformar-se em mentiras, só porque não nos dá jeito ou porque simplesmente não queremos aceitá-las.
Há vitórias que são derrotas, como há derrotas que são vitórias e, quanto a mim André Ventura pode hastear a bandeira desta última com vaidade.
Muitos são aqueles que se deitaram com uma boa dose de preocupação por, perspetivarem o perigo de um regresso ao Estado Novo ou à ditadura de Salazar.
Quanto a mim é uma não preocupação. Pessoas mais radicais nas ideias há um pouco por todos os partidos (neste há um pouco mais), contudo, Ventura capitalizou o seu discurso com base no conhecimento que, fez por ter, do território nacional. Foi à procura de perceber como podia encantar os Portugueses desacreditados e sob que forma os podia representar. Os seus resultados no interior são esclarecedores.
Podemos andar aqui todos a arranjar desculpas de mau pagador para justificar a votação dum partido populista e aquém dos cânones da democracia. Podemos alhear-nos da realidade e achar que está tudo bem furtando-nos a responsabilidades. Não podemos é depois admirar-nos das cenas dos próximos capítulos.
Os meus amigos e foram muitos, conterrâneos, rurais da serra, rurais da planície, rurais de todo o interior que votaram Ventura, não são fascistas, não são ditadores, não são xenófobos, não são homofóbicos, não são intolerantes e muito menos têm saudades de um regime que está bem enterrado no passado.
São é pessoas que estão fartas de serem deixadas para trás. Fartas de promessas. Fartas de não se verem representadas a não ser de 4 em 4 anos. Fartas de um País onde o poder central tem cavado um fosso gritante entre os grandes centros urbanos e os outros. Fartas que os urbanos que não conhecem minimamente a realidade do seu País, lhes tentem retirar o pouco que ainda lhes resta, a honra, os costumes, as tradições e a cultura do seu povo. Fartas de tanto esquecimento. Fartas de injustiças sociais. Fartas de serem os parolos cá do sítio, a pagar o luxo dos espertos do outro sítio.
O programa do partido de André Ventura é para mim quase na sua totalidade, provocador, insensato e vazio. Assenta na critica e no aproveitamento das falhas do sistema sem apontar soluções. Não é exequível e está muito colado à extemporaneidade do passado.
Eu não acredito em partidos dos extremos, eu acredito no equilíbrio, na ponderação, na responsabilidade e na equidade que, apenas os partidos moderados podem oferecer.
Contudo as feridas onde Ventura põe o dedo são muito do presente e, o desespero de um País cada vez mais desigual, faz com que esta gente se esqueça do conteúdo, abençoando apenas a forma e o objeto. Não fosse os seus sucessivos excessos e estaríamos aqui a discutir outra coisa bem diferente.
Parar esta tendência que não é solução, não é chamando-lhes fascistas, é acarinhá-los e perguntar-lhes o que é preciso fazer para voltarem a acreditar no seu País. Estes 500.000 não são extraterrestres que poisaram agora na terra. Não são bichos. Não são irracionais. São gente (a maioria) como nós, ditos moderados, mas com uma boa dose a menos de paciência. Não é com vinagre que se apanham moscas.
Não sei com exatidão a proveniência da totalidade dos votos em Ventura, sei que uma parte muito significativa veio do PSD, não viriam em legislativas ou em autárquicas muito provavelmente, fruto ainda de uma grande desorganização do partido, própria da sua tenra idade e da escassez de quadros que ainda sofre, contudo tudo o que é desorganizado pode organizar-se e a escassez muito rapidamente se transforma em riqueza.
Ventura já nos provou que o tempo não é impedimento.
Saber ler estas evidências, é talvez um dos desafios mais urgentes que o PSD tem entre mãos a curto prazo. Fazer as pessoas voltar a sentirem-se representadas, é a fórmula para ganhar eleições.
Enquanto isto não for assumido com humildade, a eternização do PS no poder será uma realidade, até surgir uma alternativa robusta que, pode muito bem já não ser a nossa.
A questão é: O PSD aceita os factos, os sinais do tempo e se reinventa ou enterra a cabeça na areia à espera que a sorte lhe bata a porta.

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